fbpx
Pesquisar
Feche esta caixa de pesquisa.

Cânhamo: o que ele tem a ver com o futuro do planeta?

06/05/2025

Em tempos de crise climática e busca por alternativas mais sustentáveis em diversos setores da economia, o cânhamo tem se destacado como um recurso versátil, ecológico e promissor. 

Derivado da planta Cannabis sativa, o cânhamo industrial só é diferente da maconha por conter níveis muito baixos de THC, o canabinoide demonizado pelo proibicionismo, por seus efeitos psicoativos. Esse fato levou muitos países a legalizarem o cânhamo, o que tem despertado um interesse ambiental e econômico cada vez maior na indústria.

E o que ele tem a ver com sustentabilidade? É o que vamos te mostrar aqui! A proposta deste conteúdo é explorar as características do cultivo, passando pelos múltiplos usos e exemplos concretos de aplicação, até outras informações que ajudam a compreender o potencial dessa planta no combate às mudanças climáticas.

O que é o cânhamo e por que é sustentável?

É uma das plantas cultivadas mais antigas do mundo, com registros de uso que datam de mais de 10 mil anos. Indústrias utilizam o cânhamo para produzir diversos tipos de produtos, como papel, tecidos, alimentos, remédios, cosméticos, bioplásticos, materiais de construção e até combustíveis. É versatilidade que fala?

Do ponto de vista ambiental, o cânhamo conta com algumas características que o tornam uma opção altamente sustentável. Os dados abaixo são do relatório “Cânhamo: a Commodity do Futuro”, do Instituto Ficus.

  • Consome menos água: comparando com o algodão, o cânhamo consome 75% menos água para produção do mesmo volume de fibra (Ecological Footprint and Water Analysis of Cotton, Hemp and Polyester. Stockholm Environment Institute, 2005);
  • Regenera o solo: em rotação de outras matérias-primas (milho, trigo, soja), o cânhamo traz ganhos de 10% a 20% na produtividade da safra (COMMODITIES AT A GLANCE, Special Issue on Industrial Hemp, 2022, United Nations);
  • Fitorremediação: muitos estudos mostram que ele tem capacidade de descontaminar solos com metal (Environmental Science and Pollution, 13, January 2023);
  • Capta mais carbono: nesse ponto, os cultivos de cânhamo equivalem a uma floresta. Por isso, existe uma grande oportunidade de neutralização de carbono na produção (Carbon Storage in Hemp and Wood raw materials for Construction Materials. Nova Institute, 2023).

Esses fatores fazem com que essa planta seja estratégica na transição para uma economia de baixo carbono, algo que muitos países têm buscado fortemente.

O potencial do cânhamo em diferentes mercados

Além de seus benefícios ambientais, o cânhamo também representa um exemplo de aproveitamento integral na cadeia produtiva. A mesma planta pode gerar tanto remédios quanto fibras. Produtores extraem canabinoides das flores e utilizam o caule para obter fibras resistentes aplicadas em tecidos, bioplásticos e materiais de construção.

Essa característica reduz possíveis desperdícios e agrega valor em diferentes etapas da produção, tornando o cultivo do cânhamo sustentável do ponto de vista ambiental, além de ser eficiente e econômico para agricultores e indústrias.

Diversos setores podem adotar a planta como substituta de matérias-primas altamente poluentes.

Imagem retirada de https://levi.com.hk/

1. Na moda e no têxtil

Infelizmente o setor da moda é um dos mais poluentes do mundo. Você sabia que a produção de uma simples camiseta de algodão consome cerca de 2,7 mil litros de água?

O tecido desenvolvido com fibras de cânhamo exige menos água, além de não depender de agrotóxicos e ser biodegradável. Algumas grandes marcas já utilizam esse insumo em suas coleções. 

Da Levi’s® à Zara®, o cânhamo virou protagonista na moda climática. Isso porque a Levi’s ampliou em 2025 a família Cottonized Hemp, jeans que preserva o estilo clássico enquanto economiza água na fibra “amaciante” .

A Patagonia® reforçou sua linha Workwear em lona de cânhamo na iniciativa Bring Hemp Home, que aposta em agricultura regenerativa.

A Adidas® lançou a série Essentials+ Made with Hemp, com peças que misturam cânhamo, algodão e poliéster reciclado para reduzir pegadas hídrica e de carbono.

A Nike®, por sua vez, testou a fibra na cápsula NOTA, inaugurada pela T‑shirt “Hemp” em colaboração com o músico Drake, em fevereiro de 2024, sinalizando uma aposta em materiais de baixo impacto. 

2. Na construção civil

Esse insumo sustentável também está presente na produção de um tipo de bioconcreto chamado “hempcrete”. A mistura de cânhamo, cal hidráulica e água é mais leve do que o concreto tradicional, tem excelente isolamento térmico e é biodegradável. É considerado o “concreto respirável” no setor da construção.

E não acaba aí: mesmo depois de aplicado, o hempcrete continua absorvendo CO2 (cada metro quadrado de parede pode sequestrar até 16 kg de CO2) e, por isso, é um material efetivamente carbono negativo. Ainda regula a umidade interna e resiste a altas temperaturas, sem propagar chamas.

Mas, isso existe, na prática? Sim! Uma matéria da BBC conta que “em 2020, um bloco de sete andares de habitação social foi concluído em Paris, utilizando concreto de cânhamo como principal material de isolamento, acompanhado de uma estrutura de madeira”.

Recentemente, no Brasil, pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) produziram um tijolo ecológico com resíduos da planta cannabis. A partir disso, os profissionais estão trabalhando para tornar o produto mais resistente, ajustando o tamanho da fibra e a consistência do tijolo.

3. Na produção de papel

A indústria de papel é outra vilã ambiental, pois demanda grandes áreas de florestas plantadas e alto consumo de água e energia. O cânhamo, por outro lado, cresce em poucos meses e pode produzir até quatro vezes mais celulose por hectare, em comparação com a madeira.

A associação iHempWA explica, aqui, que “o primeiro papel do mundo foi feito de cânhamo e, como planta, ele é mais adequado para esse produto, pois tem maior teor de celulose e menor teor de lignina”.

Cânhamo: o uso no Brasil

A Anvisa está prestes a divulgar a regulamentação do cânhamo no Brasil, conforme determinação do STJ (Superior Tribunal de Justiça) de novembro de 2024 e o cultivo ainda enfrenta barreiras regulatórias, mas existem iniciativas de pesquisa e articulação política que têm avançado.

Vale destacar que o Brasil tem solo e clima favoráveis, o que traz enorme potencial de protagonismo global no volume de produção e exportação.

A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) já demonstrou interesse no potencial do cânhamo como cultura de rotação e insumo sustentável. A indústria do cânhamo também pode ser aliada do agronegócio brasileiro, inclusive porque isso pode fortalecer a imagem do país no cenário internacional. Essa cadeia produtiva traria para o setor mais sustentabilidade, diversificação da matriz produtiva e geração de emprego.

A UFV (Universidade Federal de Viçosa) foi a primeira instituição pública brasileira a criar um banco genético de Cannabis sativa l, com “o objetivo de conhecer a variabilidade das plantas e reuni-las em local seguro, para que possam ser estudadas”.

Em 2023, foi protocolado na Câmara dos Deputados o Projeto de Lei 399/2015, que prevê a regulamentação do cultivo de cânhamo industrial no Brasil. A proposta tem o apoio de entidades ambientais e do agronegócio, considerando seu potencial econômico e ecológico.

Desafios e perspectivas

As vantagens do cultivo de cânhamo são inúmeras e de grande relevância. Mas os desafios ainda estão aí. A legislação brasileira, por exemplo, está atrasada não apenas no uso terapêutico de canabinóides, mas também na regulamentação do uso da planta para outras finalidades.

A desinformação, o preconceito e o proibicionismo contribuem para que a utilização da planta como fibra, alimento ou bioplástico ainda não seja uma realidade no país, mas esse cenário deve mudar em breve.

Cresce a cada dia a expectativa da publicação onde a Anvisa define as regras para a importação de sementes, remédios e cultivo de cânhamo no Brasil, pois entraremos em uma nova etapa de facilitação do acesso, já que as empresas poderão produzir nacionalmente.

A solução para os problemas ambientais já existe, basta acreditar

O cânhamo é uma planta multifuncional, regenerativa e alinhada aos princípios da sustentabilidade. Seja na moda, construção, papelaria ou alimentação, seu uso pode reduzir significativamente os impactos ambientais de diversas cadeias produtivas.

A tendência é de crescimento. Conforme o mundo busque soluções reais para os desafios climáticos, o cânhamo aparece, com provas e evidências, como um aliado poderoso e capaz de gerar grandes transformações.

Precisamos destravar os próximos passos, como a legalização e a regulamentação, assim como os investimentos em pesquisa e desenvolvimento. O futuro do planeta agradece.

Assine nossa
Newsletter

- Categorias de posts

QUEM PLANTA, COLHE

contato@anandamidia.com.br

+55 11 98106-9400